segunda-feira, 22 de março de 2010

ESTREIA DIA 03 DE ABRIL – CENTRO CULTURAL MARISTA

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sábado, 20 de março de 2010

RETA FINAL

Estamos chegando ao dia mais esperado. O dia onde ocorre a mais honesta e sincera comunhão da arte teatral: A ESTRÉIA. Teatro sem público não existe e público sem espetáculo não é público, é simplesmente alvo. O foco desse espetáculo que criamos a quatro mãos está naquilo que cada um dos integrantes acredita: "A VIDA É FEITA DE ENCONTROS" E nós, operários deste ofício, desta obra, desta investigação teatral, pessoal e universal, nos encontraremos com um conjunto de outros de nós no próximo dia 03 de abril. Para os artistas e espectadores desta obra,  ficará clara uma única coisa: Tudo é permitido. Tudo é visível e é possível. Há uma assertiva dita pelos cantos teatrais desta e de outras cidades que diz: "No palco é possível ver a coxia, ainda que ela não apareça fisicamente." E, sendo isso uma verdade, da cadeira de direção afirmo: As pessoas verão um espetáculo com seres iluminados. A preocupação de todos os envolvidos nesse processo durante todo o tempo foi uma só: A qualidade do espetáculo como produto final de uma caminhada artística. E que caminhada! Honesta, de corpo, de alma, de espírito, de perseverança, de alegria e muito suor nos corpos desses artistas que, segundo propus, continuam e continuarão buscando aperfeiçoarem-se a cada dia em prol de um crescimento maduro, natural e infinito deste espetáculo. Gosto quando posso dizer que um espetáculo não é mais meu... E eu o dirijo pensando nisso. Quero que ele não seja meu, mas dos artistas que o fazem. Crio um espetáculo com a percepção madura de um pai que cria um filho não para si próprio, mas para o mundo... Então, como tal, vem chegando a hora de soltar a mão desse filho, (é hora parar de empurrar a bicicleta) para que ele siga sozinho. Mas é claro que, como um bom pai, estarei ali... Para quando o filho que criei e dei de presente para mundo voltar a precisar de mim. Tudo está sendo feito de maneira cuidadosa para que o nosso público possa não somente assistir um espetáculo, mas participar efetivamente dele como parte complementar. Entrar com a sua parcela de humanidade e experimentar sua própria transformação nas mais diversas áreas da via sensorial e emocional dos seu corpo e estado e espírito. Mas nada seria possível se não tivéssemos cada um dos envolvidos dando a sua contribuição de amor, respeito, carinho e fé. A fé é necessária em tudo nessa vida. Até para levantar é preciso ter fé que vale a pena e que é preciso, mesmo que seja para nada fazer. E nós, que muito fizemos, somos gratos a todos os que nos permitiram de uma maneira ou outra, trabalhar para levantar este espetáculo. Não há nível de importância para isso. Cada um dos que se encontraram com esses anjos e que de alguma maneira lhes permitiram caminhar de forma mais confortável são importantes. De uma coisa estamos certos: Participaremos de uma comunhão incrível... Uma comunhão integral e absoluta, posto que o que queremos, antes de tudo, não é dizer o que já está dito pela vida, pelo universo, mas deixar que cada um dos presentes voltem ao mundo real com o que deixou-se de ser dito para que fosse apenas sentido. E o que é sentido não pode ser explicado, nem esquecido, não pode ser lido, sequer compreendido. Ele apenas existe ou nasce daquilo que foi experimentado... Foi vivido... Portanto, a partir do dia 03 de abril, não desejarei que todos tenham um bom espetáculo... Mas que todos tenham um bom jantar ou uma boa absorção do que por nós foi experimentado trabalhado e vivido.

Aguardamos todos para a essa grande "ceia dionisíaca" de integração, transformação, e principalmente de muitas e muitas sensações no Teatro Marista (Conde de Bonfim, 1067-Tijuca).

terça-feira, 2 de março de 2010

Tocando Harpas – E atirando-se no Abismo

“É necessário ter em si o caos, para gerar uma estrela dançante.”

100_4989 Um segredo que poucos sabem é que o espetáculo “Anjos, uma espécie de razão não comentada” está impregnado de filosofia. Filosofia incutida e em hipótese alguma apresentada de maneira clara. Ela é mesmo caótica! Criar um espetáculo realmente inédito é tarefa difícil, desde a confecção do texto teatral até o acabamento final. O mau dramaturgo dá lições de moral, quer ensinar os outros ou impor uma visão particularmente sua.  E o bom apenas mostra e deixa com que cada um tenha uma inteiramente sua. Não me incluo na primeira categoria, e espero (com pensamento sacro-santo) estar indo de encontro à segunda.

Em nosso ofício, certeza, não é coisa absoluta. Ao contrário disso, o100_5002 que é pertinente é simplesmente a dúvida. Acho que quando um ator, diretor ou dramaturgo duvida de si mesmo é que começa a criar. É necessário fazer-se sempre muitas perguntas, mas nem sempre é importante encontrar as respostas. É assim que somos na vida e é assim que nasce vida neste ofício tão belo e magnífico. Há muito percebi que todas as artes caminham, na verdade, juntas. Contudo, a arte menos compreendida ainda é a do ator. Posto que parece simples representar uma vida. Mas o problema é que a vida nem sempre é tão simples quanto parece. Isso me lembrou um poudo de Ecce Homo.

DSC05195 Em seu livro autobiográfico — Ecce homo — Nietzsche traz seu conceito de filosofia como a expressão de seu corpo filosófico. Para ele, a filosofia é a expressão da dureza, da força, do enfrentamento, do ar gélido dos cumes; a filosofia é para aqueles que possuem a força de espírito para a solidão, para o enfrentamento do medo, para aqueles que não se submetem à segurança dos ideais prontos:

Quem sabe respirar o ar forte de meus escritos sabe que é um ar da altitude, um ar forte. É preciso ser feito para ele, senão o perigo de se resfriar não é pequeno. O gelo está perto, a solidão é descomunal — mas com que tranqüilidade estão todas as coisas à luz! Com que liberdade se respira! Quanto se sente abaixo de si! — filosofia, tal como até agora entendi e vivi, é a vida voluntária em gelo e altas montanhas — a procura por tudo o que é estrangeiro e problemático na existência, por tudo aquilo que até agora foi exilado pela moral. De uma longa experiência que me foi dada por andanças pelo proibido, aprendi a considerar as causas pelas quais até agora se moralizou e idealizou, de modo muito diferente do que seria desejável: a história escondida dos filósofos, a psicologia de seus grandes nomes, veio à luz para mim. (Nietzsche, 1983, p. 366)

O exercício do pensar100_4906 a filosofia é uma atividade fisiológica que requer a expressão da força como critério para sua elaboração. A metáfora da natureza é bastante explorada por Nietzsche na tentativa de expressar, de forma concreta, seu conceito de filosofia como expressão da dureza. No Zaratustra, Nietzsche afirma:

Tem coragem, irmão meu? Tem valentia? Não coragem diante de testemunhas, mas valentia de solitário e daquele ao qual nem mesmo um deus faz mais do que ser espectador. As almas frias, cegas, bêbadas, não são para mim corajosas. Tem coração aquele que conhece o medo, mas tem somente controle sobre o medo; aquele que olha para o abismo, mas com orgulho. Que olha para o abismo, mas com olhos de águia — que com garras de águia prende o abismo: isto constitui a coragem. (Nietzsche, 1997, p. 273)

DSC05094 E o exercício de nossa arte é exatamente ter coragem e “respirar” como respira cada vida que queremos trazer à luz. (Tem coragem, irmão meu?)  Eu sinto pena de atores que são dirigidos quase como se estivessem sendo obrigados a fazer coisas que nunca seriam criadas por iniciativa sua. Atores que simplesmente cumprem o que quer o diretor. Espetáculo feito assim, jamais será dos atores! Isso é quase como não adubar a terra e já colher os frutos. Um bom diretor antes de tudo é um bom observador e conhecedor da psicologia que atentende a cada um dos atores a quem dirige. Dirigir é apontar caminhos e não arrastar um ator ou um espetáculo como se fosse gado pela estrada a que se julga mais “plausível”. Ator é, antes de tudo, um pouco daquilo que o público deseja ver: um ser vivo. É evidente que não somos exatamente o que são nossos personagens e, para ser isso, é preciso fazer o ator entender que é preciso entrar no caos para  encontrar um novo indivíduo dentro de si. Por isso gosto de criar e fazer com que outros criem junto comigo. Quando isso acontece em plenitude, o objeto da labuta nos traz sempre mais certezas que dúvidas.

E o melhor disso é: Nossos “anjos” serão capazes de florear os seus céus ou deixá-los como noites sem lua em que sempre nos advém muitas e boas dúvidas!

A boa dúvida é a que te abre para a vida.

E a má, a que te fecha as portas do mundo!